domingo, dezembro 18, 2011

Santos x Barcelona: Deu Barça ( e que o futebol brasileiro repense as suas práticas)


O Santos foi derrotado hoje na final do mundial interclubes no Japão pelo Barcelona por inapeláveis 4x0. A equipe brasileira jogou um primeiro tempo muito ruim, é verdade, mas este time do Barcelona tem um lugar no seleto grupo de times que entraram para a história do futebol, como o River Plate “La Maquina” da década de 40, o Real Madrid e a seleção húngara dos anos 50, o Santos de Pelé nos anos 60, a seleção holandesa nos anos 70 e a seleção brasileira de 1982. É um futebol que dá gosto de ver. E muito difícil anular este time do Barcelona. Poucos times no mundo são capazes disso.

PARABÉNS... e repensar!
Não é fácil ganhar a Libertadores e chegar ao Mundial no Japão. Apesar de alguma frustração dos torcedores santistas, o ano foi muito bom: campeão paulista, campeão da Libertadores e vice-campeão mundial. Muito time por aí sonha em ter um ano assim – e não se trata de “conformismo”. Parabéns ao Santos, mas algumas coisas precisam ser repensadas pelos lados da Vila Belmiro, principalmente na política de contratações.

FUTEBOL BRASILEIRO: ALERTA!
Não foi apenas a derrota do Santos. Qualquer time brasileiro hoje toma um vareio do Barcelona. E se convocar a seleção brasileira apanha também. Aliás, a seleção brasileira faz exatamente o mesmo que o Santos: toca pro Neymar pra ver se ele resolve. Quando o moleque consegue fazer tudo sozinho, ótimo; quando não, resta apelar para a "vontade". Foi o que vimos no último campeonato brasileiro: uma equipe apenas aguerrida, como o Corinthians, levou o título.

Não tem UMA equipe no futebol brasileiro hoje que privilegie o futebol coletivo ( no máximo um e outro time mais "compacto") e de toques rápidos. O Pepe Guardiola, treinador do Barcelona, disse uma coisa que deveria servir para TODOS estes treinadores aqui do Brasil, inclusive ao da seleção: “Nós tentamos passar a bola o mais rápido possível, como meus pais e avós contavam que o Brasil fazia”. Posse de bola, com o time do Barcelona e a seleção espanhola, é isso: toques objetivos e jogadas precisas, sempre visando o ataque; posse de bola, no Brasil, é aquele reme-reme com toquinhos inúteis na zaga e firulas para a torcida gritar “olé” quando o time está ganhando.

É preciso mudar a mentalidade e o modo como se gerencia futebol hoje no Brasil. Os empresários tomaram conta do futebol seja nos clubes, seja na seleção e nas categorias de base, tudo sob o “amém” da cartolagem. Hoje esses moleques saem das categorias de base sem saberem ao menos os fundamentos básicos da bola – chute, passe, lançamento ( qual é o jogador que faz lançamento hoje no futebol brasileiro? Que jogador jovem se destaca em cobranças de falta ou passes precisos?) e temos uma empáfia ao falarmos de futebol achando que ainda “somos os melhores” e “somos penta, somos imbatíveis” – empáfia essa abastecida por uma parte da imprensa esportiva cegueta e repleta de palpiteiros de boteco que temos por aí em canais de TV, colunas de sites e jornais, programas esportivos, etc.

Com esse misto de empáfia/empresários/cartolagem uma equipe de futebol como o Barcelona no Brasil seria impossível. Um Telê Santana, hoje, teria vida curta nos clubes, seria demitido ou derrubado por jogadores mimados rapidamente. Treinadores como Telê, Rubens Minelli, Ênio Andrade e outros que até paravam o treino para ensinar o jogador a bater na bola direito, acertar um cruzamento, bater uma falta decente. Não há humildade tática para marcar, paciência para virar o jogo, para tocar a bola de pé em pé, não há trabalho a longo prazo – ou alguém aí pensa que este Barcelona e a seleção espanhola surgiram de um dia para o outro, por um acaso? Tudo por aqui se resolve na individualidade, no gingado, no jeitinho brasileiro que se acha o povo mais esperto do mundo.

Aqueles que tripudiaram e riram do Santos hoje certamente não vão rir da seleção brasileira em 2014, quando simplesmente iremos aplaudir o futebol coletivo e “total” da seleção espanhola ou quando invejarmos a raça uruguaia dentro de campo. Hoje a seleção brasileira encontra dificuldades para jogar contra a Costa Rica, Venezuela e o Egito, não convence contra a medíocre seleção do Gabão e é derrotada com facilidade por adversários tradicionais como Alemanha e França. Não é o Santos: é o futebol brasileiro há muito decadente. E pelo o que estamos acompanhando o futuro não é dos mais promissores.

Um comentário:

Fernanda Salgado disse...

Perfeito, como sempre, Jaime.

O futebol brasileiro já não é o melhor há tempos. E isso será mais que comprovado em 2014. Aí, os que hoje tripudiam em cima do Santos, talvez vão se dar conta.


Sobre o jogo, só repudio a covardia e apativa. De resto, nada tenho a falar.


Um beijo, baiano mais inteligente e legal de Salvador.


Fê Salgado