quarta-feira, dezembro 21, 2011

Pedido de Natal



(obviamente a charge é antiga, mas vale o sentido)

Querido Papai Noel:

Sei que o senhor está cheio de tantos pedidos a cumprir por esta época. Mas eu me comportei bem este ano: agüentei salas de aulas lotadas, adolescentes marrentos e governos traidores, corruptos e incompetentes. O senhor não acha que eu mereço um presente?

Como, o senhor prefere ser chamado de “Seu Noel”? Tudo bem. Olha, seu Noel, eu não tenho muito o que reclamar de 2011: meu time foi campeão paulista, foi campeão da Libertadores da América e segurou o Neymar no elenco. Infelizmente perdemos a final do Mundial para uma equipe que está em um patamar muito acima do futebol brasileiro e de um jeito não muito bonito de se ver.

Desta forma eu repensei um pouco a minha listinha. Acho que até melhora pro senhor, digo, seu Noel, porque nesta listinha os presentes são modestos, quase lembrancinhas. Eu tenho certeza que o meu velho Noel de guerra, o meu querido Papai Noel velhinho batuta – o que? Ah, é uma linda canção tradicional em meu país, mas não importa – irá realizar estes singelos e modestos pedidos:

1 – Um calendário do ano de 2012 contendo o segundo semestre e todos os 365 dias do ano para a diretoria e presidência santista.

2 - Uma política de contratação de reforços mais eficiente. Não dá pra apostar em zagueiro da série B cujo time despencou pra série C ou gastar uma grana em jogador cuja última referência de bom futebol ocorreu há 4 ou 5 anos. Apostas só se forem em moleques com algum potencial. Talvez um bom gerente de futebol, seu Noel, seja um bom presente, o que você acha?

3 – Um vidrinho de tônico revitalizante + florais de humildade para o nosso querido treinador, Muricy Ramalho. Sei lá, seu Noel, parece que ele anda meio sem vontade de trabalhar, anda muito rabugento, mal humorado, não reconhece os erros e nem procura corrigi-los...

4 – Uma caçamba. Das bem grandes. Porque o Santos precisa de uma caçamba pra caber um monte de jogadores que a torcida não agüenta mais assistir com a camisa do alvinegro.

5 – Seria pedir demais o retorno do Robinho, a contratação do Montillo ou do Conca e daquele menino que joga como volante na Portuguesa, um tal Guilherme? Ah, sei lá, seu Noel, a gente manda o Henrique e mais uma grana aos patrícios. E o Fábio Costa de brinde! E...bem, eu sei que estou pedindo demais, mas não dá pra trazer o Dedé (zagueiro do Vasco) não? A gente daria Edu Dracena, Ibson e mais uns trocados... ou então aquele zagueiro, o Rever, do Atlético-MG. Ô, seu Noel, vai, isso custa menos que um Playstation!

6 – Uma passagem só de ida para a Ucrânia. Esse presente é pra um “amigo” secreto: eu achava que era um cara inteligente, mas com o passar do tempo revelou-se um verdadeiro pato...ou marreco. Esse cara é o ******!

7 – O prêmio da mega sena da virada. Mas esse é todinho pra mim, certo?
Bom, seu Noel, essa é a minha listinha. Repare que não têm pedido de mansões, iates, automóveis, 100 mil dólares, mulheres. Se bem que se o senhor estiver muito ocupado para me dar estes presentes, manda aquela sua assistente moreninha que eu vi outro dia no shopping, eu não vou ficar nem um pouco chateado.

Um abraço, meu bom velhinho! E Feliz Natal, ho ho ho!

domingo, dezembro 18, 2011

Santos x Barcelona: Deu Barça ( e que o futebol brasileiro repense as suas práticas)


O Santos foi derrotado hoje na final do mundial interclubes no Japão pelo Barcelona por inapeláveis 4x0. A equipe brasileira jogou um primeiro tempo muito ruim, é verdade, mas este time do Barcelona tem um lugar no seleto grupo de times que entraram para a história do futebol, como o River Plate “La Maquina” da década de 40, o Real Madrid e a seleção húngara dos anos 50, o Santos de Pelé nos anos 60, a seleção holandesa nos anos 70 e a seleção brasileira de 1982. É um futebol que dá gosto de ver. E muito difícil anular este time do Barcelona. Poucos times no mundo são capazes disso.

PARABÉNS... e repensar!
Não é fácil ganhar a Libertadores e chegar ao Mundial no Japão. Apesar de alguma frustração dos torcedores santistas, o ano foi muito bom: campeão paulista, campeão da Libertadores e vice-campeão mundial. Muito time por aí sonha em ter um ano assim – e não se trata de “conformismo”. Parabéns ao Santos, mas algumas coisas precisam ser repensadas pelos lados da Vila Belmiro, principalmente na política de contratações.

FUTEBOL BRASILEIRO: ALERTA!
Não foi apenas a derrota do Santos. Qualquer time brasileiro hoje toma um vareio do Barcelona. E se convocar a seleção brasileira apanha também. Aliás, a seleção brasileira faz exatamente o mesmo que o Santos: toca pro Neymar pra ver se ele resolve. Quando o moleque consegue fazer tudo sozinho, ótimo; quando não, resta apelar para a "vontade". Foi o que vimos no último campeonato brasileiro: uma equipe apenas aguerrida, como o Corinthians, levou o título.

Não tem UMA equipe no futebol brasileiro hoje que privilegie o futebol coletivo ( no máximo um e outro time mais "compacto") e de toques rápidos. O Pepe Guardiola, treinador do Barcelona, disse uma coisa que deveria servir para TODOS estes treinadores aqui do Brasil, inclusive ao da seleção: “Nós tentamos passar a bola o mais rápido possível, como meus pais e avós contavam que o Brasil fazia”. Posse de bola, com o time do Barcelona e a seleção espanhola, é isso: toques objetivos e jogadas precisas, sempre visando o ataque; posse de bola, no Brasil, é aquele reme-reme com toquinhos inúteis na zaga e firulas para a torcida gritar “olé” quando o time está ganhando.

É preciso mudar a mentalidade e o modo como se gerencia futebol hoje no Brasil. Os empresários tomaram conta do futebol seja nos clubes, seja na seleção e nas categorias de base, tudo sob o “amém” da cartolagem. Hoje esses moleques saem das categorias de base sem saberem ao menos os fundamentos básicos da bola – chute, passe, lançamento ( qual é o jogador que faz lançamento hoje no futebol brasileiro? Que jogador jovem se destaca em cobranças de falta ou passes precisos?) e temos uma empáfia ao falarmos de futebol achando que ainda “somos os melhores” e “somos penta, somos imbatíveis” – empáfia essa abastecida por uma parte da imprensa esportiva cegueta e repleta de palpiteiros de boteco que temos por aí em canais de TV, colunas de sites e jornais, programas esportivos, etc.

Com esse misto de empáfia/empresários/cartolagem uma equipe de futebol como o Barcelona no Brasil seria impossível. Um Telê Santana, hoje, teria vida curta nos clubes, seria demitido ou derrubado por jogadores mimados rapidamente. Treinadores como Telê, Rubens Minelli, Ênio Andrade e outros que até paravam o treino para ensinar o jogador a bater na bola direito, acertar um cruzamento, bater uma falta decente. Não há humildade tática para marcar, paciência para virar o jogo, para tocar a bola de pé em pé, não há trabalho a longo prazo – ou alguém aí pensa que este Barcelona e a seleção espanhola surgiram de um dia para o outro, por um acaso? Tudo por aqui se resolve na individualidade, no gingado, no jeitinho brasileiro que se acha o povo mais esperto do mundo.

Aqueles que tripudiaram e riram do Santos hoje certamente não vão rir da seleção brasileira em 2014, quando simplesmente iremos aplaudir o futebol coletivo e “total” da seleção espanhola ou quando invejarmos a raça uruguaia dentro de campo. Hoje a seleção brasileira encontra dificuldades para jogar contra a Costa Rica, Venezuela e o Egito, não convence contra a medíocre seleção do Gabão e é derrotada com facilidade por adversários tradicionais como Alemanha e França. Não é o Santos: é o futebol brasileiro há muito decadente. E pelo o que estamos acompanhando o futuro não é dos mais promissores.