segunda-feira, março 15, 2010

Sobre Santos 3 x 4 Palmeiras: um grande jogo e lições a aprender

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O Palmeiras quebrou a invencibilidade de 12 partidas do Santos ao derrotar o alvinegro por 4 x 3 na Vila em uma grande partida. Teve de tudo ontem no estádio Urbano Caldeira: gols bonitos, falha de goleiro, dancinhas, arbitragem frouxa, lances geniais.

O Santos falhou muito em seu setor defensivo. Culpabilizar o goleiro Felipe pela derrota – falhou no 4º gol por estar adiantado e desatento no jogo – é simplista e esconde a principal deficiência do time neste campeonato: o desequilíbrio entre um ataque incrível e um sistema defensivo frágil. Sem contar os “apagões” que o time sofre em determinados momentos dos jogos. O Santos simplesmente “para” de jogar e isso vem acontecendo desde a partida contra o Bragantino, passando por Rio Claro, Corinthians e até Naviraiense (no 1º jogo, em MS).

Dorival precisa resolver isso. A zaga está muito desprotegida e é preciso de um volante “cão de guarda”, daqueles que tenham como ofício a marcação implacável e a cobertura da zaga. O problema é que no elenco só tem “meia boca”: Roberto Brum, Germano e Rodrigo Mancha são fracos. Mesmo assim Dorival deveria pensar na escalação do Mancha, o menos ruim dos três, para compor melhor o meio de campo. É bonito ver uma equipe com vocação tão ofensiva, mas é bom lembrar que não é todo o dia que um time toma 3 gols e marca 6.

Ontem marcamos 3 gols no Palmeiras – que obviamente não é a Naviraiense, como certos comentaristas insinuaram – que tem Marcos no gol, mas tomamos 4 gols em falhas grotescas de posicionamento da zaga, tanto que no 1º gol verde eram três jogadores subindo para cabecear, livres de marcação, restando apenas ao goleiro Felipe uma saída não muito honrosa, mas sem muito o que fazer. O resultado acabou sendo justo porque o Palmeiras soube aproveitar bem todas essas deficiências santistas.

Patrulhamento


Enquanto o Santos e os meninos da Vila faziam a festa contra Bragantino, Rio Branco e outros times do interior, ninguém reclamava de “desrespeito” e “gracinhas” que os habilidosos jogadores de frente do Santos faziam – muito pelo contrário, diversos comentaristas e jornalistas exaltavam a “volta do futebol arte, do futebol moleque” e outros termos elogiosos e saudosistas.

Porém primeiro veio a paradinha no pênalti convertido por Neymar no clássico contra o São Paulo e um humilhado Rogério Ceni desabafando de forma grosseira e arrogante contra o moleque ousado de 18 anos recém-completos; depois veio o chapéu no zagueiro Chicão, do Corinthians, em clássico vencido pelo Santos na Vila. E aí começou todo o patrulhamento em torno dos jovens jogadores santistas. Houve até quem defendesse que o Chicão "arrebentasse" o Neymar.

Os mesmos jornalistas e comentaristas que outrora louvavam o “futebol moleque” passaram a falar de “molecagem”. Passaram a dizer que o time de meninos era “mascarado”, que subestimava e humilhava os adversários.

Ao final da partida contra o Santos, o meia Diego Souza, do Palmeiras, tomou as dores do zagueiro Chicão e desabafou: “eles fazem o que querem, subestimam muito os outros times. O Neymar disse que deu aquele chapéu no Chicão porque deu vontade. Isso não se faz”. Seria ótimo que o Diego Souza também fosse solidário a jogadores que recebem cotoveladas e são caçados em campo. Isso, sim, não se faz.

Há uma inversão de valores muito interessante. Jogadores com Neymar, Paulo Henrique e Robinho possuem recursos técnicos que um Chicão, Dentinho e Diego Souza não possuem. Pecado seria se os jogadores santistas não utilizassem todos aqueles recursos, como pedaladas, dribles, lançamentos, chapéus. Interessante que tais recursos são vistos como “desrespeito” ao adversário, mas as cotoveladas e lances perigosos que se constituem em entradas maldosas são considerados “do jogo”. Se outros jogadores não possuem toda essa técnica, cabe a eles encontrar seus pontos fortes e treinar, e não procurar intimidar um grupo de garotos que joga futebol como se fosse uma diversão.

Diversão. Talvez este seja o problema. Em um mundo muito chato e politicamente correto, onde palavras como “respeito” e “profissionalismo” muitas vezes não passam de meros discursos hipócritas quando se convém utilizar – sobretudo no Brasil, onde o “jeitinho” e o improviso infelizmente ainda imperam - , a diversão, a alegria, a espontaneidade parecem ser proibidas.

Eu me divirto vendo esse jovem time santista jogar, mesmo que não seja campeão ( é futebol, nem sempre os melhores times vencem, vide Brasil 1982) é um prazer assistir partidas em que o Santos entra em campo. Porque não apenas os meninos jogam bonito e com alegria que resulta em belos lances e gols fantásticos, mas também porque o adversário se esforça ao máximo para vencê-los. E o resultado é um grande jogo de futebol.

Infelizmente, ao que parece, para muita gente, perdura a filosofia Pé-de-Uva do futebol de resultados cujo o gol é “apenas um detalhe”. Que seja. Mas não condenem o que só aparece de tempos em tempos e por um curto período em nosso pobre e desgastado futebol: um time alegre, espontâneo e habilidoso.

Porque também precisamos de um pouco de humor!

Palmeirenses agora estão com a moda do “Porcolation”.Nada contra, é criativo,desde que fique apenas neste campo das dancinhas e brincadeiras saudáveis, sem descambar para agressões. Neste espírito vamos relembrar uma charge do saudoso Ministro Veiga, desaparecido desde 2008 e que até hoje não se tem notícias sobre seu paradeiro.
Escrito por Jaime Guimarães, que achou a senha do blog com a ex-namorada do Ministro Veiga, a Cunegunda. Só não perguntem como ele obteve tal senha. Siga no twitter: www.twitter.com/jaimeguimaraess e no blog http://grooeland.blogspot.com/